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Por Fabiano Mazzei
A volta ao trabalho presencial é uma das pautas prioritárias na agenda das empresas e organizações em 2025. Estudo da consultoria McKinsey revelou que 64% da força de trabalho das principais empresas do mundo já havia retornado ao expediente “in person” em quatro dias da semana ou mais. Um ano antes, este índice estava em 35%.
Na cidade de São Paulo, o fenômeno foi detectado em pesquisa da multinacional especializada em serviços imobiliários Colliers. No segundo semestre de 2024, foram locados 181 mil metros quadrados de lajes corporativas de alto padrão (A/A+) na capital paulista, o maior volume para seis meses dos últimos cinco anos. As pessoas estão definitivamente de volta ao batente.
Dentre os motivos para a convocação das companhias ao regresso estão a queda da produtividade, perda da cultura empresarial e falta de interação entre os funcionários. Por outro lado, esta “repatriação” dos colaboradores acontece em um momento em que novos valores da sociedade se mostram mais sólidos, sobretudo no pós-pandemia.
A preocupação com a qualidade de vida durante o período de trabalho é algo levado à sério pelas pessoas agora e tem impactado no desejo – ou não – delas em retomar suas posições no escritório. Isso tem provocado uma profunda transformação do mercado imobiliário corporativo, com novo projetos que carregam conceitos como biofilia e wellness para dentro dos prédios.
Bosques com árvores adultas se destacam na fachada do Salma Tower, na capital paulista (Foto: Pedro Mascaro)
Na Avenida Faria Lima, centro financeiro da capital paulista, um novo office de alto padrão tem se destacado na paisagem: o Salma Tower. Com 16 pisos, ele possui arquitetura peculiar, com bosques de 110 metros quadrados e pé direito duplo que descem em espiral, andar por andar, por toda a fachada.
“Aplicamos a biofilia, com áreas que criam uma integração entre o espaço construído e a natureza, propiciando mais bem-estar para as pessoas que vão trabalhar ali”, explica Grazzieli Gomes Rocha, sócia-diretora do escritório aflalo/gasperini arquitetos, que assina o projeto do edifício.
As varandas têm piso de cascalho e receberam árvores adultas de espécies nativas da Mata Atlântica. “Além de atrair pássaros e servir de isolamento térmico para o prédio, essa massa arbórea também vai contribuir com um ar de melhor qualidade para a cidade”, comenta o paisagista Ricardo Cardim, responsável pelos jardins suspensos.
Ambiente com sofás e itens de design no corporativo boutique Gabriel 1825, nos Jardins, São Paulo
(Foto: Idea!Zarvos)
CONVIVÊNCIA
Um ponto favorável apontado por aqueles que já retomaram a rotina dentro da empresa é a interação com outros funcionários. E como as incorporadoras de empreendimentos comerciais têm buscado responder a isso? Criando espaços de convivência que vão muito além de um tímido refeitório ou mesa de pingue-pongue.
No corporativo boutique Gabriel 1825, a ser entregue neste ano, nada se parece com um prédio de escritórios convencional – a começar pela altura. Como está em uma região de São Paulo com restrição de número de andares, no Jardim Europa, o empreendimento tem apenas dois pavimentos acima do térreo.
Concebido pelo arquiteto Isay Weinfeld, ele terá varandas de madeira quem criam um ambiente acolhedor, a maioria delas com vista para uma praça ajardinada de 1.500 metros quadrados construída bem na frente do escritório.
“Quando se fala em wellness, logo se pensa em um spa com academia dentro do prédio. Mas, para nós, o conceito vai além disso e, no caso deste projeto, ele foi traduzido em uma praça pública que vai estimular o encontro e a convivência das pessoas”, explica Otávio Zarvos, sócio-fundador da incorporadora Idea!Zarvos, responsável pelo projeto.
A torre única do Edifício Valente tem lojas no térreo, escritórios no centro do prédio e restaurante, jardim e residencial no topo (Foto: FGMF)
De acordo com o executivo, após o período de home office, as pessoas acabam buscando um lugar para trabalhar que tenha uma atmosfera similar. “É isso que sempre buscamos fazer: escritórios que sejam mais legais do que a casa dos colaboradores”, diz Zarvos.
Para Felipe Giuliano, diretor de Locação, Pesquisa e Health da CBRE Brasil, a demanda por espaços de trabalho mais flexíveis e agradáveis se acentuou após a pandemia. Segundo ele, ambientes com sofás, pufes e lounges para descanso têm forte apelo junto às novas gerações. “Layouts mais convidativos ajudam a atrair e reter talentos, além de contribuir com a produtividade dos colaboradores”, afirma Giuliano.
É com essa proposta que o Edifício Valente ganhou vida no bairro de Pinheiros, na zona oeste paulistana. Uma torre única com 23 pavimentos divididos em duplex e triplex, criando espaços de trabalho com jeito de loft novaiorquino.
Com estilo loft, pisos duplex e triplex criam atmosfera única do Edifício Valente, em São Paulo (Foto: FGMF)
“Quisemos criar essa atmosfera, com todos os andares diferentes, mezaninos, varandas projetadas ou com recuo na fachada e grandes lojas no térreo”, descreve Fernando Forte, sócio do escritório FGMF, autor do Valente.
Dentro das lajes, destaque para a incidência de luz natural e excelente ventilação cruzada, que trazem conforto aos usuários e redução no consumo energético tanto de luz, quando do ar-condicionado. Por fim, o edifício ainda tem um restaurante e jardim suspenso – abertos ao público – e nove unidades residenciais nos andares mais altos.
“A configuração multiuso, misturando comercial no térreo, corporativo no meio e moradia no topo, deixou o prédio muito mais interessante para as pessoas desejarem estar lá”, aposta Forte.