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Por Fabiano Mazzei
Quando se fala em Serra Gaúcha, na parte nordeste do Rio Grande do Sul, logo se vem à mente o nome de suas duas cidades mais conhecidas – Gramado e Canela. Bem verdade, elas concentram o maior fluxo de turistas do estado. Em 2023, foram perto de 10 milhões de visitantes.
Mas o destino vai muito além disso. São três microrregiões geográficas que compõem o lugar: Hortênsias, Serra e Campos de Cima da Serra. Cada qual com a sua proposta, oferecendo em comum uma intensa relação com a natureza e com as tradições culturais do estado, influenciadas fortemente pela imigração italiana e alemã.
Uma imersão por esta vasta região proporciona descobertas surpreendentes, com experiências que enaltecem as paisagens, a enogastronomia e a hospitalidade gaúchas. Um roteiro que combina autenticidade e sofisticação, traduzindo a territorialidade e o estilo de vida nas montanhas deste extremo sul do país.
Vida noturna agitada é um dos atrativos de Gramado (RS) (Foto: Rafael Cavalli/Divulgação)
EXPERIÊNCIAS
Para capturar esta essência, nada melhor do que começar com passeios ao ar livre. Existem opções mais próximas das áreas urbanas, como o Garden Park – um parque natural em Gramado, com jardins, alamedas de carvalho canadense, riachos e trilhas, fundado pelo empresário André Tissot, do Grupo Sierra. Outra opção é o Lago Negro, na mesma cidade: uma área verde criada nos anos 1950, com árvores trazidas da Floresta Negra, na Alemanha. Ambas são ótimas opções para curtir com toda a família.
Quem busca uma conexão mais intensa com as belezas naturais da região, deve conhecer Campos de Cima da Serra, a capital do ecoturismo da Serra Gaúcha. Caminhadas rumo ao topo dos famosos cânions Itaimbézinho e Fortaleza são passeios clássicos, mas opções mais rústicas.
Passeios a cavalo pelas paisagens exuberantes da região (Foto: Paulo Hafner/Divulgação)
A empresa Cavalgadas Campofora realiza roteiros a cavalo de 3 a 5 dias, até a borda dos cânions do Parque Nacional de Aparados da Serra, em São José dos Ausentes, na divisa do estado com Santa Catarina. Quem comanda a tropa é o experiente Paulo Hafner, há 33 anos promovendo o turismo na região. Os cavalos são próprios, da espécie Crioulo, a mais tradicional do estado. Os passeios atravessam riachos, passam por cachoeiras e cruzam as paisagens deslumbrantes. A hospedagem acontece em fazendas no caminho, elevando ainda mais a imersão no lifestyle do interior gaúcho.
A relação com a terra é outra característica da vida na região. É dela que seus habitantes extraem os ingredientes que tornam sua gastronomia tão especial. A começar pelas uvas, que têm rendido vinhos premiados internacionalmente e cujos vinhedos têm proporcionado passeios encantadores.
No Vale dos Vinhedos, formado pelas cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, encontra-se todo tipo de produtor de vinho: dos mais artesanais a grandes companhias do setor.
Os vinhedos da Família Geisse, em Pinto Bandeira (RS) (Foto: Divulgação)
A Família Geisse é uma delas. Fundada em 1979, pelo enólogo chileno Mario Geisse, se tornou referência em espumantes de alta qualidade, com rótulos premiados mundo afora. A vinícola fica no município de Pinto Bandeira, é aberta ao público e oferece experiências como um tour de 4×4 pela propriedade, piqueniques harmonizados e degustações completas.
Para quem busca um tinto, a Vinícola Almaúnica é uma das mais tradicionais. Foi fundada pelos irmãos Márcio e Magda Brandelli, sobrenome com longa história na vinicultura de Bento Gonçalves. Eles são filhos de Laurindo Brandelli, fundador da vinícola Don Laurindo, uma das pioneiras do estado. A combinação da expertise ancestral com técnicas modernas de produção resulta em excelentes vinhos, presentes nas melhores mesas do país. A propriedade oferece visita guiada também, com degustação.
Já Foppa & Ambrosi nasceu em 2019, da amizade de seus jovens fundadores, Lucas Foppa e Ricardo Ambrosi. Nasceu como vinícola de garagem, literalmente, e em poucos anos, conquistaram reconhecimento com vinhos como o G.O.A.T. e Vista dos Plátanos, badalados em concursos internacionais. Atualmente, produzem vinhos também na Califórnia e no Uruguai. A sede fica em Garibaldi, em um casarão de 120 anos com toda a infraestrutura para receber visitantes.
Destilaria Alba é um achado da Serra Gaúcha (Foto: Divulgação)
Mas nem só de bons vinhos vive a região. A Destilaria Alba, de Pedro Paiva e Rosana Cavalleri, é um achado em meio às montanhas. Criada em 2022, em Monte Belo do Sul, utiliza técnicas artesanais para destilação para fazer brandy, rum, Eau de Vie, uma aguardente de uva. Eles produzem também pequenos lotes de destilados de ameixa, amora e marmelo.
Os produtos da Alba podem ser encontrados nos melhores bares do Brasil, como Tan Tan e The Punch, em São Paulo, e nos restaurantes paulistanos Tuju, Cepa e Arturito, bem como no Capincho e Bottega Maria em Porto Alegre. As visitas à microdestilaria são gratuitas e devem ser agendadas com antecedência.
Ainda sobre os frutos da terra, uma atividade típica da região é a caça aos cogumelos comestíveis – como os deliciosos Porcini –, que são abundantes por ali, sobretudo no outono e inverno. O hotel Parador Cambará do Sul criou uma experiência exclusiva, que acontece duas vezes ao ano: O Despertar dos Cogumelos Selvagens. O roteiro de sexta a domingo inclui hospedagem, alimentação e a caçada em meio à floresta de Pinus, o habitat preferido dos famosos cogumelos. O chef e especialista Altemir Pessali acompanha o grupo, explicando as espécies de “funghi”, seus tipos e usos. Ao final do dia, uma degustação dos cogumelos harmonizada com vinhos da região encerra a experiência.
Por fim, outra tradição do interior gaúcho é a produção de queijos. Na zona rural de Canela fica a Queijaria Alvorada Missioneira. Fundada em 2012, é especializada na produção do queijo tipo serrano – feito 100% de leite cru de vaca – e de outras variedades a base de leite de cabra, todos artesanais e sem conservantes. Os produtos da empresa já ganharam oito prêmios nacionais e internacionais. É possível se visitar a produção, bem como adquirir os queijos – e um doce de leite irresistível da marca – na loja recém-aberta no centro da cidade.
Queijos, cogumelos e rum: Iguarias da Serra Gaúcha (Divulgação)
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Os ingredientes locais são as estrelas principais do menu dos melhores restaurantes da região. Os queijos, por exemplo, são a base da fondue mais celebrada de Gramado, no Catherine Restaurant. Do chef Nicolas Heckel, traz no menu clássicos da gastronomia francesa, elaborados com produtos tradicionais da cozinha gaúcha. O ambiente é outro destaque, com decoração artsy e clima intimista.
Restaurante Catherine, em Gramado: melhor fondue (Foto: Divulgação)
No 1835 Carne & Brasa, em Canela, o churrasco é o carro-chefe do cardápio, servido à mesa com vista espetacular para o Vale do Quilombo. Todos os pratos foram criados pela chef Carla Pernambuco, com respeito profundo pelo terroir gaúcho e bioma dos pampas. Os cortes de carne, por exemplo, das raças britânicas Angus e Hereford, são oriundos de produtores locais.
1835: Cortes especiais de carne e vista para o Vale do Quilombo (Foto: Lisiane Viezzer/Divulgação)
O Primrose Prime Restaurant, no hotel Castelo Saint Andrews, segue a mesma filosofia de privilegiar ingredientes locais no seu menu. Mais além, utiliza vegetais frescos que são cultivados em uma horta orgânica dentro da propriedade. A carta de vinhos, com 500 rótulos de todo o mundo, é um capítulo a parte, tendo sido classificada pela revista Wine Spectator como uma das melhores do mundo por seis anos consecutivos.
O restaurante Primrose tem adega premiada (Foto: Divulgação)
HOSPITALIDADE
O Castelo Saint Andrews, aliás, é um dos ícones da hospitalidade de luxo na Serra Gaúcha. Em Gramado, ostenta o selo Relais & Châteaux, em reconhecimento à excelência de instalações e serviços. São 20 acomodações exclusivas, três delas na Mountain House: uma residência de montanha inspirada nas casas de campo do Reino Unido, com capacidade para até seis pessoas e estadia mais privativa.
Vista aérea do Castelo Saint Andrews: exclusividade (Foto: Divulgação)
Ainda na cidade, o Wood Hotel, no Centro, é uma opção mais cool e descontraída. Em estilo lodge moderno, é restrito para maiores de 14 anos e traz obras de arte e design nos quartos e áreas comuns, bem como utiliza amenities eco-friendly. Destaque para o Ocre Restaurante & Bar de Charcutaria, com menu elaborado pela chef Roberta Sudbrack.
Design e atmosfera cool no Wood Hotel (Foto: Divulgação)
Por fim, para quem busca uma experiência de estadia ainda mais genuína, o hotel Parador, em Cambará do Sul. A propriedade cercada de araucárias e às margens do Rio Camarinhas, oferece suítes, bangalôs, um chalé familiar e os famosos Casulos: quartos para casal com deck e jacuzzi ao ar livre feitos em formato cilíndrico, criando uma estadia inesquecível. O hotel oferece diversos passeios, trilhas autoguiadas, Spa L’Occitane e o restaurante Alma RS, do chef Rodrigo Bellora, idealizador do conceito “cozinha de natureza”.
Suíte Casulo no hotel Parador, em Cambará do Sul (RS) (Foto: Lisie Viezzer/Divulgação)
Ao final, a experiência pela Serra Gaúcha pode surpreender até mesmo ao viajante mais exigente. Um lugar que promove o encontro da natureza exuberante do Sul do Brasil com as tradições culturais construídas por séculos de imigração europeia, refletindo na relação das pessoas com o meio ambiente, na arquitetura típica, na gastronomia de excelência e na forma gentil de receber os visitantes.
COMO CHEGAR DE AVANTTO
Aeronave indicada: Embraer Phenom 300
Partida: São Paulo (SP)
Aeroporto de Congonhas
Destino: Canela (RS)
Aeródromo de Canela (SCCN)
Coordenadas: 29º 22’14”S / 50º 49’55”W
Operação: VFR Diurno/Noturno
Duração: 01h30