10/01/22

Mobilidade aérea elétrica em 2022: desafios e oportunidades

O ano que se inicia deve revelar avanços tecnológicos nas aeronaves e a criação de ecossistemas operacionais que colocarão o setor na reta final para a sua estreia definitiva ainda nesta década.

Tempo de Leitura: 08 minutos

Por Avantto

A mobilidade aérea elétrica entra em uma nova e decisiva fase no Brasil e no mundo a partir de 2022. Com a equalização de desafios técnicos e o início da criação de ecossistemas operacionais, o setor caminha de forma mais acelerada rumo à sua efetiva liberação como modal disponível para o transporte de passageiros e carga, prevista para acontecer antes de 2030.

A expectativa é de que, muito em breve, eVTOLs – aeronaves  elétricas de decolagem e pouso verticais – estarão sobrevoando as principais cidades do mundo, contribuindo para reduzir o tráfego terrestre, as emissões de poluentes e melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos.

Em expansão, o setor registrou US$ 5,4 bilhões em negócios somente entre janeiro e setembro de 2021. A consultoria Markets & Markets prevê um crescimento de 13,5% ao ano, de forma consistente, alcançando a cifra de US$ 9,1 bilhões até o final da década.

A consolidação do novo modal aéreo elétrico proporcionará benefícios diretos aos usuários do sistema, criará milhares de novos empregos e ajudará o setor aéreo na transição rumo a economia net zero, com a eliminação total das emissões de gases do efeito estufa até 2050.

Desafios técnicos

Para o estabelecimento do modal de forma definitiva, alguns desafios técnicos estão sendo resolvidos. A autonomia das baterias, por exemplo, configura um dos principais obstáculos até aqui para o pleno desenvolvimento dos eVTOLs.

No ano passado, uma das mais tradicionais fabricantes de propulsores aeronáuticos do mundo anunciou investimentos de 80 milhões de libras no desenvolvimento de baterias de alta densidade energética que terão capacidade para voos acima de 160 km de distância com uma única carga.

Outro ponto de atenção importante se refere ao impacto ambiental causado pelo barulho das hélices. Como a ideia é levar a mobilidade aérea elétrica para dentro das cidades, é importante que estas operações não prejudiquem o próprio bem-estar dos habitantes.

Para resolver a questão, empresas já trabalham na apresentação de soluções inovadoras que possam agir neste sentido ­– como sensores capazes de filtrar e equalizar os ruídos emitidos, e estudos que usam softwares de análise computacional da dinâmica de fluidos (CFD) para desenvolver rotores e pás mais silenciosos.

Protótipo eVTOL

Oportunidades em infraestrutura

Com o acelerado desenvolvimento dos aparelhos e tecnologias onboard, os principais operadores do mercado mundial passaram os últimos anos fechando parcerias e acordos com empresas para a criação dos ecossistemas de voo e o estabelecimento das infraestruturas terrestres – os vertiports.

Este último movimento está no centro do debate atual sobre a mobilidade avançada para as cidades e inclui não apenas áreas para pousos e decolagens verticais, mas também todo um parque de facilities e de manutenção das aeronaves, pontos de abastecimento e centros de controle de tráfego aéreo que serão fundamentais para que o novo modal possa operar com eficiência e segurança diante do grande volume de novos voos previstos.

Do ponto de vista dos ecossistemas de voo, parcerias como da Eve – startup de mobilidade aérea urbana da Embraer – com a Avantto, empresa líder em administração e compartilhamento de propriedade de aeronaves no Brasil, têm sido observadas em todo o mundo. O objetivo é desenvolver novos serviços e procedimentos que, juntamente com outros stakeholders do setor, possam criar um ambiente seguro e escalável para expandir as operações de eVTOL na América Latina.

Esses esforços focarão nos aspectos críticos da experiência do passageiro, a fim de criar um projeto que atenda a todos os usuários, maximizando a acessibilidade e a inclusão nas operações de embarque de eVTOL.

É absolutamente imprescindível que os operadores estejam aptos a trabalhar com variações de demanda, uma vez que a nova mobilidade aérea urbana poderá atuar com requisições just in time, sem reservas de voo com antecedência – como ocorre hoje nas linhas aéreas comerciais.

O impacto no setor aéreo

A consolidação da mobilidade aérea elétrica provocará mudanças em toda a indústria de transporte aeronáutico. Segundo análise da consultoria McKinsey, até 2030, as principais companhias de Mobilidade Aérea Avançada (AAM, na sigla em inglês) contarão com frotas maiores – cerca de 1.000 aparelhos eVTOL cada – e voarão mais vezes ao dia do que grandes companhias aéreas tradicionais.

Os voos serão, em sua maioria, mais curtos – média de 18 minutos – conectando bairros ou cidades em um raio de 160-240 km. O número de passageiros deve ficar em, no máximo, seis pessoas mais o piloto. Sim, para os analistas da McKinsey, voos autônomos ainda são uma realidade distante e os pilotos permanecerão necessários por muitos anos.

A se confirmar, este cenário acarretará em profundas remodelações no transporte aéreo regional e de curta distância, com impactos sentidos em toda a cadeia de serviços ligadas ao setor.

Aeronave eVTOL, da Eve, será 100% elétrica

Táxi aéreo ou trem-bala?

O modelo ideal de atuação da nova mobilidade aérea urbana tem dividido especialistas e players do setor. Muitos defendem o serviço como um “táxi aéreo”, com os eVTOLs disponíveis nos vertiports e prontos para que qualquer usuário possa acessá-lo on demand.

Outros acreditam que os voos só deveriam acontecer por meio de agendamento prévio, como um ticket de trem, com reserva de assento e horário pré-determinado. Este formato, ao menos inicialmente, se relevaria mais organizado e controlável do ponto de vista da operação.

Modelos para o fretamento de aeronaves ou de compartilhamento de propriedade de eVTOLs também estão em estudo. Este último, já bastante difundido no Brasil, reúne vantagens operacionais e de gestão financeira que podem ser bastante atraentes neste momento inicial da mobilidade aérea elétrica destinado ao mercado de aviação executiva.

A mobilidade aérea elétrica será, portanto, um divisor de águas para o setor de transporte aéreo e deverá moldar a maneira como as pessoas se movimentarão dentro das cidades e a forma como as empresas deslocaram os seus profissionais para ganhar tempo diante do caos do tráfego terrestre urbano. Uma integração de esforço tecnológico e investimento financeiro em prol de um modo de ir e vir mais sustentável para o futuro dos negócios e das nações.

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