22/01/24

Os segredos da fotografia aérea

Por Avantto

Fotografia e aviação são paixões que movem muita gente, seja por lazer ou trabalho. No caso do paulistano Cássio Vasconcellos, a união das duas se tornou um modo de ganhar a vida há quase três décadas. Fotógrafo profissional desde 1981, ele se tornou piloto de helicóptero em 1995 exatamente para buscar novas perspectivas para o seu trabalho. Deu certo. Hoje, é um dos nomes mais reconhecidos internacionalmente quando o assunto é fotografia aérea. 

Com participação em mais de 200 exposições em todo o mundo, trabalhos em coleções permanentes do Masp, Biblioteca Nacional de Paris e Museum of Fine Arts em Houston (EUA), séries dedicadas exclusivamente ao tema (Aéreas #1 e #2, Coletivos #2) e livros como Brasil Visto do Céu (2017), Aeroporto (2015) e Praias Brasileiras (2022), Cássio teve uma de suas fotos – um ângulo vertiginoso, a 90 graus e 2 mil pés de altura, pendurado em um helicóptero sobre Nova York – escolhida para pôster oficial do filme “Inception”, com o astro do cinema Leonardo DiCaprio, em 2010. 

A busca por imagens deslumbrantes acima das nuvens o levou a participar de expedições aéreas intercontinentais a bordo de um helicóptero. Em 2011, ele decolou com um Bell 429 do norte dos Estados Unidos até São Paulo. Foram 12 dias de viagem, com direito a registros belíssimos das paisagens do meio oeste americano, Caribe e Amazônia.  

No ano seguinte, partiu de São Paulo rumo ao deserto do Atacama, no Chile, em cinco dias. O momento mais tenso foi a travessia de helicóptero da Cordilheira dos Andes, a 4 mil metros de altitude, por Mendoza, na Argentina. É o teto limite de voo sem que haja necessidade de suporte de oxigênio para tripulantes e passageiros. 

A seguir, o fotógrafo conversa com a Avantto sobre a carreira, a decisão de fazer fotos aéreas, os principais desafios técnicos e processo criativo para realizar os seus projetos, e dicas sobre como capturar imagens de qualidade durante o voo. 

Cássio Vasconcellos em ação para a série de imagens sobre o litoral brasileiro: fotógrafo premiado e com exposições em mais de 20 países. Crédito: Divulgação.

Avantto – Por que escolheu a fotografia aérea? 
Cassio Vasconcellos – Eu sempre fui apaixonado por helicópteros, desde a infância. Acabei fazendo um curso de pilotagem em 1995/96, quando tirei o meu brevê. Foi uma maneira de ficar mais próximo da aviação. Acabei fazendo amizade com pilotos e isso me ajudou depois, na fotografia, com voos de carona. Por isso, boa parte do meu trabalho publicado é formada por imagens aéreas. Como passei a voar bastante, ganhei uma nova perspectiva, vista de cima, da fotografia. 
 
Tenho cinco livros publicados no Brasil com este olhar, um só de São Paulo, outro só do Rio e um dedicado ao litoral brasileiro. Há mais quatro projetos em andamento e, se tudo der certo, começo a produzi-los neste ano. 

Avantto – Ser piloto ajuda de que forma a exercer este tipo de trabalho? 
Cássio – Quando estou em um helicóptero, por exemplo, o fato de saber pilotar ajuda muito: sei o que está acontecendo a bordo, entendo a língua do piloto e jamais peço algo que possa colocar em risco a segurança do voo. Antes de decolar, apresento um bom briefing ao piloto também, para ele saber o que eu quero fazer. Não é lá em cima que essa conversa deve ser feita porque o piloto tem outras coisas no que se concentrar, além do custo financeiro de se voar sem objetivos definidos. Isso é muito importante. 

Imagem sobre a piscina da Universidade de São Paulo (USP), capturada em 2007 para um livro de fotos sobre a capital paulista. Crédito: Divulgação.

Avantto – Como você define os temas dos trabalhos? 
Cássio – Muitas vezes, as fotografias não são programadas com um foco definido. É o que eu vejo durante o voo, a questão da surpresa e das descobertas. Isso é muito bacana. Em outros casos, já decolo com um objetivo definido para a foto. Então me preparo para aquela imagem, estudo a rota antes, pelo Google Earth, para saber o que posso encontrar pela frente. 

Avantto – Qual a dica para captar um momento perfeito durante um voo? 
Cássio – Depende do que se quer fotografar. Se for uma paisagem, o melhor é ao amanhecer ou no fim do dia, quando a luz está mais bonita. Por outro lado, se for um imóvel, por exemplo, é melhor perto do meio-dia porque não tem sombra grande. De qualquer forma, fotografar durante um voo sempre traz uma percepção muito interessante. 

Registro da cidade do Rio de Janeiro nas primeiras horas do dia: jogo de luz e sombra. Crédito: Divulgação.

Avantto – Que equipamento costuma usar? 
Cássio – Uma câmera 35mm com uma lente zoom. Isso é muito importante: ela ajuda a se aproximar do alvo que quer fotografar sem depender do movimento do helicóptero. E também não aconselho ficar trocando de lente durante o voo. Diminui o risco de alguma coisa cair e de se perder tempo, em caso de necessidade de retornar a algum ponto porque perdeu a oportunidade trocando a lente. 

Avantto – O que acha do drone para registro de imagens aéreas? 
Cássio – O drone é uma ótima ferramenta, eu utilizo para algumas coisas. Acho que são complementares: tem imagem que só dá para fazer possível por drone, outras que é melhor com helicóptero. Tem várias questões que podem definir qual recurso usar também: se há permissão de voo no lugar, se o objetivo é cobrir uma área muito extensa… neste caso, o helicóptero é imbatível. Outro dia, fotografei o litoral de São Paulo todo até Paraty, no Rio de Janeiro, de helicóptero. Se tivesse de fazer de drone, levaria uma semana. 

Pôster do filme “Inception” (A Origem, 2010), com Leonardo DiCaprio, e a imagem original, obtida por Cássio Vasconcellos em 2006. Crédito: Divulgação.

Avantto – Como aconteceu a foto usada para ilustrar o filme Inception (2010), com Leonardo DiCaprio? Cássio – Estive em Nova York em 2006 e sempre tive vontade de fazer uma fotografia forte da cidade, que não existia nos bancos de imagem: em um ângulo de 90 graus, de cima para baixo, com aqueles prédios imensos, com uma lente supergrande angular para realçar a sensação de vertigem. Foram três sobrevoos na cidade em um Esquilo, sem as portas e na altitude máxima permitida lá, que é dois mil pés. 
 
Quando chegamos ao ponto onde eu queria, uma região com muitos prédios, o piloto começou a rodopiar para o helicóptero ficar bem de lado e não aparecer os esquis enquanto fotografava. Foi um momento de muita adrenalina!  

O resultado foi uma imagem muito interessante. Eu a enviei por email a uma agência de fotografia e ela acabou sendo escolhida como um dos pôsteres do filme “Inception” (A Origem, na versão em português). Fiquei muito contente quando eu soube. O filme é muito bacana. 

Adrenalina! Fotógrafo se pendura no helicóptero para capturar imagens sobre os arranha-céus em Nova York. Crédito: Divulgação.

Avantto – Quais aeronaves já pilotou? E por que não seguiu carreira na aviação?
Cássio – Robinson 22 e 44. Não segui carreira porque não era a ideia: queria ter proximidade com a aviação e o conhecimento. Isso me ajudou muito para as fotografias que eu fiz.  

Avantto – Afinal, qual a sua maior paixão: aviação ou fotografia? 
Cássio – Olha, é difícil dizer: eu sou realmente apaixonado pelas duas coisas. No final, acho que é muita sorte ter uma ocupação que permite juntar essas duas paixões. Posso exercer a profissão de fotógrafo voando de helicóptero. 

Para saber mais do trabalho de Cássio Vasconcellos, suas séries, exposições e livros, acesse o site: cassiovasconcellos.com.br 

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